Lowsumerism: novas formas de consumo da Economia Digital
A sociedade de consumo basicamente se iniciou no primeiro quarto do século XX quando diversas condições fomentaram esse movimento. A segunda Revolução Industrial havia promovido as linhas de montagem que descarregavam quantidades de produtos até então impensáveis. A urbanização e o êxodo rural nos principais países geraram maior demanda por produtos de todos os tipos. E o surgimento da classe média com trabalhadores assalariados e pequenos produtores propiciou o surgimento dos consumidores.
Esse período consolidou a utilização do dinheiro como base de troca por produtos e serviços. O conceito de lucro passou a ser buscado ferrenhamente pelas empresas da época através da a produção em massa. E para acelerar o consumo foi adotada a publicidade com o intuito de divulgar e criar desejos por tantos novos produtos. O ingrediente final dessa receita foi a indústria do crédito financeiro, através do qual as pessoas podiam obter dinheiro para adquirir produtos.
E assim se iniciou a história de muitas pessoas felizes por poderem adquirir bens e serviços compulsivamente. Também se iniciou o século em que milhões de pessoas se tornaram endividadas por comprarem mais do que podiam, enquanto milhões de outras viviam frustradas e deprimidas por não terem acesso a esse universo.
O fenômeno da Globalização nas últimas décadas do século XX foi o auge do que veio a se denominar como consumismo. De um lado pessoas altamente endividadas ou à margem da sociedade e de outro lado empresários bilionários acumulando riquezas que não conseguiriam gastar nem se vivessem 400 anos. No meio deles surgiram os workaholics, indivíduos que achavam bacana trabalhar 16 horas por dia de domingo a domingo.
A dinâmica do consumismo não afetou somente as pessoas, que passaram a desenvolver diversas doenças emocionais e psicológicas. Também afetou severamente o Planeta ao utilizar os recursos naturais como se não houvesse amanhã. Existe uma relação profunda entre o consumismo, a sociedade e o meio ambiente, pois a produção que atenda ao consumo desenfreado necessita de diversos recursos que não são repostos. Com isso o planeta Terra atingiu o ponto máximo no uso de recursos naturais que consegue regenerar. Ou seja, atingimos o limite em que o déficit ecológico supera a capacidade do planeta de renovar seus recursos naturalmente.
O que vem depois de o consumismo ter esgotado os indivíduos, a sociedade e o planeta?
Não quero parecer um discurso comunista vazio que só vomita ódio sem propor soluções. Diversos estudiosos e pesquisadores apontam que o Capitalismo atingiu um ponto de inflexão com a virada do século e isso vai sendo constatado pelo surgimento de novos paradigmas, como a Economia Compartilhada, a produção com custo marginal próximo a zero, o resgate dos valores sociais e a busca por propósito e qualidade de vida ao invés de carreias milionárias.
A parada forçada que a humanidade sofreu em 2020 por conta da pandemia de COVID-19 deixou claro que a sociedade estava num grau de saturação que precisava de mudanças urgentes. Entre tantas medidas e mudanças de paradigmas que precisam ser adotadas, uma diz respeito ao consumismo.
Foi nesse cenário que empresa de pesquisas sobre comportamento e consumo, Box 1824, criou uma campanha chamada “The Rise of Lowsumerism”. Esse movimento nasceu com o intuito de combater o consumismo exacerbado, propondo um estilo de vida mais consciente com a sustentabilidade econômica e ecológica.
O termo Lowsumerism se dá pela junção das palavras “low” (baixo em inglês) e “consumerism” (consumismo em inglês). Os princípios desse movimento dão foco a algumas atitudes como:
- Pensar antes de comprar;
- Buscar alternativas de menor impacto ao meio ambiente;
- Viver apenas com o que é realmente necessário.
O interessante do Lowsumerism em comparação com outros movimentos sociais do passado é que, enquanto os precursores bateram de frente com o status-quo de cada época, essa nova onda foi acontecendo sutilmente através das mudanças provocadas pela Transformação Digital.
A já citada Economia Compartilhada é um dos efeitos do Lowsumerism, já que provocou forte disrupção na sociedade de consumo ao trocar a propriedade pelo Direito de Uso em diversos segmentos econômicos. Outro fator significativo se dá nas gerações mais jovens, os millenials e geração Z, bem menos materialistas e imbuídos de mais propósito em suas vidas.
Desafios na aplicação do Lowsumerism
Uma das questões mais delicadas para a adoção em massa do Lowsumerism é a megatendência da Desmonetização. Abrimos esse artigo falando sobre o uso do dinheiro na economia de consumo, mas agora esse mesmo dinheiro está sendo eliminado, seja pelas relações de troca, seja pela disrupção que extingue empresas e setores inteiros.
Ainda que o Capitalismo já experimente seus primeiros anos de declínio, a Economia mundial ainda é fortemente embasada nele. Portanto precisará de novos modelos econômicos para não gerar mais miséria do que a sociedade de consumo já promoveu.
Outro ponto de destaque é que as empresas e startups orientadas por Modelos de Negócios inovadores já tem consciência de que precisam ter um propósito e uma função social. Ter uma empresa com o objetivo de enriquecimento pessoal é algo que ficou no século XX e as corporações que ainda insistem nesse paradigma, irão desmoronar como a Kodak, a Blockbuster e outras.
Felizmente muitas grandes organizações estão se adaptando a essa nova realidade, seja produzindo bens mais duráveis e que consomem menos recursos na produção, seja migrando para o fornecimento de serviços ao invés de produtos.
Talvez o Lowsumerism ainda não seja a solução que o planeta realmente precisa, mas o simples fato de estar propondo uma alternativa, já é uma luz no fim do túnel. Certamente nos próximos anos veremos o surgimento de novas teorias, propostas e modelos relacionados à Transformação Digital. Quem sabe não seja você o proponente desse novo cenário!
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