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O que é Advocacia 4.0

O que e Advocacia 4.0

Existe um consenso de que a Advocacia 4.0 se iniciou a partir de artigos, palestras e livros do professor britânico Richard Susskind. Em 2013 ele publicou aquela que hoje é considerada a principal obra sobre o futuro da Advocacia: “Tomorrow’s Lawyers”.

A visão futurista encapsulada nos estudos e pesquisas de Susskind acertaram em quase tudo o que vem se desenrolando atualmente no mercado jurídico. Ser uma Advogada ou Advogado do Futuro não é mais uma meta distante, pois o futuro já chegou. A Advocacia 4.0 já se encontra estabelecida e tem como objetivo implementar mentalidades, processos, métodos e tecnologias digitais no cotidiano de escritórios jurídicos de todos os portes.

No entanto, para colocar em prática a Advocacia 4.0 não basta somente ter algumas rotinas informatizadas e uma conta nas redes sociais. Trata-se de uma jornada longa, a qual tem começo, mas não terá fim.  O desenvolvimento é constante e perpétuo, pois envolve ambientes complexos. Nessa jornada a direção é mais importante do que a velocidade.

 

O que é Advocacia 4.0

Direto ao ponto, Advocacia 4.0 é a transformação digital de forma prática nos escritórios jurídicos. Ela se aplica através de conceitos, métodos e recursos tecnológicos para realizar atendimentos e otimizar processos. Essa nova forma de advogar promove uma reinvenção nos serviços jurídicos com mais qualidade, eficiência e economia.

Ainda que as tecnologias digitais sejam importantes, a Advocacia 4.0 não se resume a elas. Uma série de novas disciplinas advindas de outros segmentos de mercado foram incorporados à prática jurídica. Essa realidade é muito mais ampla do que se considerava o exercício da advocacia até então. Ela exige enxergar o escritório de Advocacia como uma empresa que precisa faturar com clientes pagantes.

Isso significa pensar muito além do mero advogar. Tanto a trajetória de conquistar e manter clientes quanto métodos de gestão e planejamento de marketing fazem parte dessa nova era. Advocacia 4.0 envolve automação de processos e isso implica em entender e organizar os processos operacionais e fluxos de trabalho.

Toda essa gama de novidades não se implementa de uma única vez. Por isso a digitalização do escritório de advocacia é uma jornada que tem início, mas não terá fim.

 

Quais são as outras fases da Advocacia?

A primeira Era da Advocacia brasileira obviamente se iniciou a partir do primeiro curso de Direito no Brasil fundado em 1827. A atuação desses primeiros advogados era limitada doutrinariamente e territorialmente. Podemos chama de Advocacia 2.0 o período que vai de meados da década de 1960 até quase o final do século XX. A urbanização, a industrialização e a volta da democracia foram os propulsores de escritórios mais consistentes com equipe de advogados, secretária, estagiários etc.

A globalização e a informatização predominantes desde o início dos anos 2000 foram os condutores da terceira fase. Além de demandas jurídicas mais complexas, se percebe a expansão dos limites geográficos e culturais, bem como a profissionalização dos escritórios.

Não por acaso essas fases aconteceram próximas às grandes mudanças socioeconômicas ocasionadas pelas revoluções industriais. Talvez com algum atraso devido ao conservadorismo típico do Direito. Dessa forma podemos situar o início da Advocacia 4.0 na década de 2010 consoante com as premissas fundamentais sugeridas pelo professor Richard Susskind. A seguir listaremos algumas dessas diretrizes.

 

Automação de tarefas para otimizar a Produtividade

Automatizar é tornar um processo automático. O objetivo é deixar a automação realizar as tarefas operacionais e repetitivas enquanto o advogado se dedica às atividades intelectuais e estratégicas.

A prática de agregar velocidade e agilidade a um trabalho de qualidade se tornou mandatória em todos os segmentos de mercado. E mesmo assim a automação é muito mais do que apenas contratar soluções tecnológicas. As ferramentas, práticas e processos adotados devem estar alinhados ao fluxo de trabalho e à cultura do escritório. A digitalização e automação envolve repensar toda a operação jurídica em tarefas como:

 

Gestão Legal / Gestão Jurídica

A Gestão Legal ou Gestão Jurídica compreende todas as rotinas administrativas e atividades estratégicas que mantém o escritório operante enquanto os Advogados se dedicam ao exercício da advocacia. A gestão da banca jurídica vem ganhando importância por promover a profissionalização do escritório com Métodos de Gestão já consolidados na administração de empresas. Além de organizar a departamentalização do escritório ela será responsável pelos recursos materiais, humanos e tecnológicos.

Um dos pontos mais importantes dessa visão de negócios proporcionada pela Advocacia 4.0 é a Gestão Financeira. É imprescindível trazer para a realidade dos advogados as práticas de projeções de despesas fixas e variáveis, de custos diretos e indiretos, bem como as estimativas de receita e faturamento.

O Software Jurídico é a ferramenta que consolida as tarefas e rotinas da Gestão Legal. Ele deve ser um instrumento intrínseco a todas as atividades executadas no escritório, seja na área administrativa, seja na produção jurídica.

 

Controladoria Jurídica

A controladoria jurídica é uma função de nível gerencial responsável por planejar a distribuição, padronização e fluxo de atividades. Seu principal objetivo é desenvolver métodos para controles efetivos de prazos e contingências. Para isso, cria e analisa indicadores de desempenho que possibilitam um monitoramento constante das atividades de cada colaborador.

As atividades monitoradas pela controladoria Jurídica são protocolos, diligências, cadastros, agendamentos, digitalizações, acompanhamentos de prazos, relatórios internos e externos, integração das intimações, elaborar modelos de peças pré configurados, imputar processos e recursos no sistema, revisão das peças, solicitar documentos e informações, organizar pagamento de custas, controlar prazos, verificar implantações e acompanhar processos dentre outras atividades relacionadas a dados, documentos e processos.

 

Estratégia na Advocacia

Marketing envolve uma série de funções que vão desde definir o público-alvo, desenvolver produtos e serviços, precificar, construir a Marca e seus atributos, analisar o mercado e a concorrência, compreender os canais de distribuição, elaborar campanhas e ações promocionais e reunir tudo isso sob um planejamento.

No âmbito jurídico, o objetivo primordial do marketing é dotar a advocacia de uma visão empresarial, orientada a negócios. Um dos instrumentos mais importantes do Marketing é o Planejamento, documento que tem a função de determinar o que é o escritório, em que ponto está, para onde deve seguir nos próximos anos e como irá chegar lá. Tecnicamente falando, essas premissas representam os objetivos, estratégias, táticas e metas que orientarão de forma coordenada e sistemática o curso e direção para o escritório.

Na esfera tática temos o Marketing Jurídico, responsável por fortalecer a Marca Jurídica, promover o capital intelectual e executar as ações promocionais para prospecção de clientes.

 

Presença Digital do Escritório de Advocacia

A Presença Digital ativa tem como objetivos primordiais ajudar o visitante a resolver seus problemas e converter as visitas em oportunidades de negócio. Essas dinâmicas acontecem em todos os canais digitais como site, buscas, eMail e Redes Sociais.

O principal combustível da Presença Digital continua sendo o Capital Intelectual. A produção e compartilhamento de conteúdo útil e relevante ainda se mostra o principal ativo do advogado no sentido de demonstrar sua autoridade no assunto em que se considera especialista.

 

Prospecção Ética na Advocacia

Uma vez que a advocacia se entende como uma empresa privada que precisa obter lucro para sobreviver, a prospecção de clientes para o escritório se torna uma atividade vital. O respeito aos ordenamentos e prerrogativas deve ser observado em toda e qualquer ação de prospecção ética. As boas práticas de Marketing Jurídico amparadas no Código de Ética e Disciplina e no Provimento 205/2022 utilizam-se dos canais digitais para conquistar clientes e novos negócios para as bancas.

 

Trabalho Remoto e Escritórios Jurídicos

Conceitos como a Economia GIG e do Futuro do Trabalho já preconizavam a modalidade de atuação everytime & everywhere há alguns anos. A pandemia de covid-9 acelerou ainda mais essas tendências com regulamentações legais, tecnologias funcionais e com boas práticas operacionais. Os formatos de trabalho remoto ou híbrido se tornaram uma realidade em diversos segmentos de mercado, principalmente no Direito. Seja no âmbito dos escritórios ou dos tribunais, o formato de trabalho a partir de canais digitais está evoluindo aceleradamente.

 

Inteligência Artificial na Advocacia

Inteligência Artificial significa máquinas e dispositivos desenvolvendo a capacidade de aprender, deliberar e decidir logicamente sobre determinadas informações a fim de resolverem problemas que, até então, só poderiam ser solucionados por humanos.

Nesse contexto surgiu a IA Generativa, uma categoria específica da inteligência artificial. Ela também aprende a partir de conteúdos existentes, só que ela tem a capacidade de gerar novas peças realistas que refletem as características dos dados com que ela foi treinada. O exemplo mais proeminente dessa categoria de IA é o ChatGPT.

A Aplicação de Inteligência Artificial está se ampliando a cada ano e sua utilização na advocacia se encontra em elevada maturidade para realizar automações de tarefas e documentos, revisão e análise de contratos, acompanhamento de processos e prazos, pesquisa jurídica e análise de grandes volumes de documentos legais e decisões judiciais.

 

Escritório de Advocacia Data Driven e Legal Analytics

Data Driven significa negócios orientados por dados. À luz das disciplinas de gestão o termo se refere a planejamentos e processos que colocam o uso de dados no centro das estratégias do escritório. Na prática isso gerou a disciplina de Legal Analytics. Ou seja, uma aplicação do Business Intelligence direcionada ao segmento específico do Direito.

São métodos, tecnologias e algoritmos para coletar informações em fontes confiáveis, armazenar em locais controlados, organizar em dados estruturados, identificar padrões e, por fim, construir uma base sólida de informações para analisar e transformar em informações e conhecimentos.

 

Quais os benefícios oferecidos pela Advocacia 4.0?

A despeito de todas essas inovações que a Advocacia 4.0 traz ao mercado jurídico, ela não se trata de um fardo a ser carregado pelos sócios. Todas essas disciplinas, métodos e tecnologias carregam inúmeros benefícios aos escritórios de Advocacia.

 

Como se tornar Advogada 4.0 / Advogado 4.0?

Não existe uma fórmula mágica para se tornar um Advogado 4.0. Na realidade, assim como a Transformação Digital, se trata de um processo que tem início, mas não tem fim. A digitalização de recursos, métodos e processos é uma jornada que se estende a todas as atividades do advogado, dentro e fora do escritório.

Um dos pontos mais importantes diz respeito à automação das tarefas operacionais repetitivas, as quais consomem muitas horas de trabalho dos colaboradores. Essas tarefas podem e devem ser delegadas a sistemas automatizados, softwares e robôs, que as executam com muito mais eficácia e em menor tempo.

Essa prática tem como objetivo liberar o Advogado 4.0 para se dedicar às atividades intelectuais e estratégicas. Juntamente a isso, a Gestão Jurídica pode lançar mão dos Métodos Ágeis que tornam a operação jurídica e os processos administrativos mais enxutos e organizados. O resultado é um ganho de eficiência operacional que leva a uma otimização da produtividade. Ao conseguir “fazer mais (trabalhos) como menos (tempo e energia)” o escritório se torna mais competitivo.

A competitividade do mercado também exige diferenciação dos profissionais que desejam obter sucesso. Para isso a construção de uma Marca Jurídica (pessoal ou do escritório) aliada à produção de capital intelectual se mostra eficaz. E para alimentar essa base de conhecimento é imprescindível se capacitar continuamente tal qual preconiza o conceito de LifeLong Learning.

A Prática jurídica vai além das habilidades técnicas

O ambiente de transformação constante que se tornou a sociedade em geral se torna uma fonte de milhares de novas oportunidades de mercado. As inúmeras mudanças nos hábitos de consumo, entretenimento, informação, educação e relacionamento trazem novas demandas ao âmbito social. Algumas estão exigindo novas interpretações dos ordenamentos jurídicos existentes, enquanto outras necessitam de novas Leis e regulamentações. O Advogado 4.0 estará apto a absorver a grande onda de abundância de oportunidades que já inundam o mercado.

No entanto o Advogado 4.0 não é formado unicamente de habilidades técnicas, como no passado. Ele precisa de habilidades emocionais e criativas para operar todas essas transformações. Aqui entram em cena as denominadas Soft Skills, revelando a grande tendência em valorizar o lado humano nos ambientes de trabalho.

Por fim, possivelmente o aspecto mais importante para quem vai se lançar na jornada do Direito 4.0 é a Mentalidade Digital. Significa desenvolver um mindset orientado à inovação constante e ao uso natural dos recursos digitais em todas as atividades cotidianas.

 

O Futuro da Advocacia já chegou

Uma das diretrizes mais relevantes do Direito 4.0 é a transformação digital do Escritório de Advocacia. Essa tendência se iniciou pelos departamentos jurídicos e bancas de grande porte. No entanto já se expandiu para tribunais de todas as esferas bem como escritórios de todos os portes e áreas de atuação.

Para Advogadas e Advogados, ficar de fora desse cenário não é uma opção. Essa pressão vem de todos os lados, sobretudo do Poder Judiciário (em franca digitalização dos estoques dos tribunais) e das empresas contratantes de serviços jurídicos (em adiantado estágio de digitalização).

A boa notícia é que aderir a esse movimento está mais fácil graças às diversas LegalTechs que oferecem serviços, softwares jurídicos e plataformas para escritórios de todos os portes e áreas de atuação. Nessa Jornada de Digitalização na Advocacia a direção é mais importante do que a velocidade. Então cada Escritório de Advocacia deve encontrar o seu ritmo para tocar esses processos.

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