Economia GIG – do compartilhamento ao futuro do trabalho
Quanto mais se estuda sobre os fatores inerentes à Transformação Digital, mas se constata o quanto todos estão intrinsecamente conectados. Algumas Megatendências são tão homogêneas que quase não se distingue uma da outra. Este é o caso da Economia GIG, a qual possui tangência sutil com a Economia Compartilhada, a Desmonetização, a Escalabilidade Exponencial e ao Futuro do Trabalho. Mesmo assim, prefiro tratar este conceito separadamente, pois algumas minúcias poderiam se perder em meio aos demais assuntos.
Justamente por essa miscelânea a GIG Economy deve ser entendida como uma confluência de fatores econômicos, políticos e sociais. Com o advento da internet foi possível transcender o escritório como ambiente de trabalho. A dificuldade da mobilidade em grandes centros urbanos intensificou a demanda por trabalho remoto. Em outra vertente, as empresas sobrecarregadas por impostos e encargos trabalhistas passaram a flexibilizar a relação de trabalho, admitindo colaboradores part-time ou autônomos sem vínculo empregatício.
O conceito da Economia GIG
Dessa forma a Economia GIG se embasa no formato de trabalhos flexíveis, temporários ou freelancers, seja local ou remotamente. Desse movimento surgiram os conceitos de home office e nomadismo digital, situação em que o trabalhador não tem nem residência fixa e vive se deslocando pelo mundo enquanto realiza trabalhos remunerados através dos canais digitais.
Para quem não é tão familiarizado, essa realidade pode parecer incerta e arriscada do ponto de vista profissional. No entanto ela se alinha a dois fenômenos em andamento: da liberdade de não restringir nossa atuação profissional e do Futuro do Trabalho, onde atuações pontuais serão mais valorizadas do que carreiras. Os impactos para a qualidade de vida são muitos, já que o trabalhador pode definir seus próprios horários e sua carga total de trabalho diário, pode estipular seus locais preferidos para trabalhar, pode definir suas próprias metas financeiras e principalmente pode atuar em diferentes segmentos aleatoriamente.
Talvez o grande percursor desse movimento tenha sido Timothy Ferriss ao publicar o livro “Trabalhe 4 Horas por Semana” em 2007. Criticado e idolatrado ao mesmo tempo, Tim apresentava ao mundo um novo paradigma de trabalho ao mesmo tempo em que praticava aquilo sobre o qual teorizava. Obviamente, como todo pioneiro, Ferriss se equivocou sobre algumas práticas, mas definitivamente seus conceitos formaram a base da Economia GIG.
Plataformas como GetNinjas (conecta clientes a prestadores de serviços), AirBNB (aluguel de espaços), Quinto Andar (aluguel de imóveis), DogHero (hospedagem para pets), Uber (transporte compartilhado) pu Loggi, Rappi e Uber Eats (entrega de alimentos) estão ai para provar que a Economia GIG já é realidade.
Desafios para fomentar a Economia GIG
Mas nem tudo são flores no cenário pintado por Timothy Ferriss. O romantismo de trabalhar com qualquer coisa, a qualquer hora em qualquer lugar não é tão simples na prática.
Primeiramente não basta ter um laptop conectado para executar alguma atividade profissional. É imprescindível ter conhecimento técnico, teórico e prático, além da capacitação contínua devido às tecnologias que surgem regularmente. Ou seja, ser um profissional qualificado ainda é a ordem do dia. Na verdade, cada vez mais, já que as atividades profissionais vão ficando cada vez mais complexas. O lado bom é que no mesmo sentido existem milhares de instituições, escolas e universidades com diferentes modelos de Ensino à Distância (EaD).
Outro ponto que ainda vai provocar muitos debates é a precarização dos direitos trabalhistas. Uma vez que os freelancers e nômades digitais não possuem vínculo empregatício, ou seja, não se enquadram na CLT, eles não poderão usufruir de alguns direitos e benefícios garantidos pela Lei. Ainda vai longe a discussão entre os conservadores que exigem uma legislação “mãezona” e os liberais que defendem a autorregulação do mercado. Porém não é escopo desse artigo aprofundar essa polêmica.
Disrupção X Regulamentação
Independente das questões jurídicas trabalhistas, existe um outro ponto que até tem tangência, mas não é o mesmo assunto. Trata-se de algumas regulamentações necessárias para a prática de alguns desses serviços. Como eles são claramente disruptivos em relação aos formatos antigos, cria-se um vácuo de entendimento sobre algumas situações. Por exemplo: no caso de um acidente envolvendo um carro de Uber: quem se responsabiliza pelos custos mecânicos, o motorista ou a Uber? Essa é somente uma questão bem simples para exemplificar regulamentações que serão necessárias em alguns dos novos segmentos de modo a não se instaurar o caos.
Certamente esses debates envolvendo a Transformação Digital ainda serão bastante explanados entre a sociedade civil e os governos até se chegar a um ponto de equilíbrio. E isso é bom, pois obriga os interessados a participarem na construção de uma realidade mais alinhada à qualidade de vida.
Autor
Sou escritor, produtor de conteúdo e criador de conceitos para o mercado jurídico. Consultor para digitalização e automação na Advocacia. Sou palestrante FENALAW e Autor dos livros “Advocacia e Transformação Digital” e “Presença Digital”. Ao longo dos 15 anos de atuação no Mercado Jurídico adquiri um profundo conhecimento dessa área e desejo ser protagonista na imensa transformação pela qual ela está passando.