Advogado: o Metaverso (ainda) não é para você!
Desde outubro de 2021 Metaverso tem sido um dos termos mais pesquisados no Google e mais debatido em portais de conteúdo relacionados a tecnologia, entretenimento, negócios e marketing. Foi nessa data que Mark Zuckerberg anunciou os novos rumos da empresa que adotaria o nome corporativo Meta, segregando o Facebook ao nível de produto, tal como Instagram e WhatsApp.
Desde então muita coisa tem sido falada sobre Metaverso. Algumas são informações muito úteis enquanto outras não passam de bobagens homéricas na forma de teoria de conspiração. Certas pessoas estão deslumbradas e outras assustadas. No meio jurídico não é muito diferente: advogados de todos os segmentos e portes se questionam se precisam entrar no tal Metaverso.
E eu estou aqui para te dizer que não, o metaverso não é para advogados.
Mas por que estou sendo tão enfático a essa questão? É justamente isso o que pretendo descortinar nesse artigo. Antes, porém, vamos tentar buscar uma definição do termo Metaverso. Digo tentar porque tudo ainda é tão novo que se torna extremamente fugaz cravar uma definição exata.
O que é o Metaverso?
Diversos analistas técnicos já se debruçaram na construção de definições para o Metaverso. Sem entrar em tecnicidades, vamos simplificar o conceito como ambientes e universos digitais interativos com simulações virtuais e experiências de imersão em tempo real. Com essa definição fica claro que Zuckerberg não inventou nada. Apenas pegou um conceito já existente, se apropriou antes que alguém o fizesse e criou uma bela embalagem. Além de muito buzz.
No entretenimento os filmes da Marvel e DC trouxeram para o grande público os conceitos de multiverso que já foram abordados nos quadrinhos há algumas décadas. Mas Matrix e Tron já tinham feito isso 20 anos antes. E a série Black Mirror nos mostrou situações futurísticas assustadoramente reais.
Na prática, o Facebook (ou Meta) ainda não lançou nada. Mesmo assim já existem empresas entregando ambientes virtuais de imersão na forma de games e plataformas colaborativas. As mais conhecidas são: MS Mesh, XBox, Fortnite, Minecraft, Roblox e Nvidia Omniverse. E tantas novas estão entrando para essa lista a todo momento.
Mas por que o Metaverso não é para advogados?
Aqui reside a grande polêmica sobre o assunto. Como toda novidade, os ambientes digitais de imersão já despertaram interesse early-adopters, aqueles indivíduos que têm uma certa obsessão em serem os primeiros a experimentar coisas novas. Nesse sentido, muitos deles estão correndo para serem os primeiros a inserir seus avatares e empresas nos universos digitais já existentes. Entre eles, alguns advogados.
Até aqui, nenhum problema, esse tipo de indivíduo faz parte naturalmente da sociedade e tem um papel importante em estratégias de Marketing que precisam gerar escala em produtos e serviços. O dilema começa quando se observa mais para baixo da ponta desse iceberg, que são as condições necessárias para usufruir plenamente do Metaverso.
Direto ao ponto: o nome desse jogo é Transformação Digital e só estarão aptos a experimentar os ambientes virtuais aquelas empresas que estão trabalhando em sua digitalização e desenvolvendo a sua maturidade digital. No mercado jurídico o mesmo fenômeno vem sendo chamado de Direito 4.0 e tem o mesmo significado.
Em resumo a transformação implica em adotar práticas de digitalização de documentos e fluxos operacionais, automação das tarefas repetitivas, adoção de inteligência artificial, automação de atendimento, uso de dados para tomada de decisão, inovação constante e segurança da informação. Não se trata de adotar alguns desses critérios, é imprescindível lançar mão de TODOS para configurar o processo de digitalização. A adoção plena de todas essas práticas é o que eu costumo chamar de Mentalidade Digital.
Observando tudo isso fica evidente que o potencial para advogados aderirem ao Metaverso é enorme. No entanto menos de 10% dos escritórios atendem a todos aqueles critérios listados no parágrafo anterior.
Se você já está entre esses 10% que entenderam e estão praticando o Direito 4.0, parabéns! Continue a sua jornada de digitalização aderindo aos diversos ambientes virtuais já disponíveis. Existem inúmeras oportunidades de negócios dentro e em torno deles. Mas caso o seu escritório, independente do porte, faz parte dos 90% que ainda resiste à Transformação Digital, eu insisto: o Metaverso não é para estes advogados!
Mas então é isso, o Metaverso não é para advogados e pronto?!?
Claro que não. Estamos em plena Era da Informação. O que não faltam são fontes de aprendizado e conhecimento para os advogados compreenderem o conceito de Direito 4.0 e iniciarem a Transformação Digital de seus Escritórios.
A primeiríssima atitude é aceitar a necessidade da mudança. A Transformação Digital é para todos, porém quem sair na frente vai desfrutar de mais oportunidades. Adotar uma mentalidade digital faz parte dessa etapa, pois essa transformação inevitavelmente acontece de cima para baixo, ou seja, a partir dos sócios.
Em seguida é necessário definir quais serão os passos na digitalização do escritório de advocacia. Cloud Computing, digitalização de documentos e processos, trabalho remoto, recursos de comunicação interna e externa, ferramentas de atendimento ao cliente e software de Gestão Jurídica são ações necessárias, independente do tempo que se levará para adotá-las. Ainda existem as tarefas operacionais que podem ser automatizadas por processos digitais ou por inteligência artificial.
Ver este rol de tecnologias complexas pode causar uma certa aflição aos advogados iniciantes no Direito 4.0, porém não se deixe abalar com isso. A Transformação Digital é um longo processo que tem início, mas não terá fim. A partir do momento em que se inicia a jornada a banca estará em perpétua e constante transformação. Obviamente é imprescindível ter um plano de ação bem estruturado para não se perder no caminho.
Outro motivo para não se assustar é que a imensa maioria do que está sendo dito sobre Metaverso ainda é mera especulação. Estes ambientes virtuais só irão realmente decolar e atingir seu pleno potencial quando as redes 5G estiverem operando com amplitude, algo que sequer começou e ainda pode levar de 2 a 5 anos, pois requerem infraestrutura totalmente nova.
E por fim, como toda novidade, o conceito de Metaverso ainda irá passar por um processo de maturação até que realmente se consolide como conceito e como prática. Até lá, você tem tempo de digitalizar o seu escritório e usufruir das oportunidades trazidas pelos ambientes digitais de imersão.
Autor
Sou escritor, produtor de conteúdo e criador de conceitos para o mercado jurídico. Consultor para digitalização e automação na Advocacia. Sou palestrante FENALAW e Autor dos livros “Advocacia e Transformação Digital” e “Presença Digital”. Ao longo dos 15 anos de atuação no Mercado Jurídico adquiri um profundo conhecimento dessa área e desejo ser protagonista na imensa transformação pela qual ela está passando.